22 de novembro de 2015

Penetrando Surdamente no Reino das Palavras

Olá!

"Ah, lá vem ela", você pensa, "Lá vem ela dizer que está sem tempo para postar, que sente saudades do blog e postar que é bom, nada!". Pois é, cara. Acho que se você, como eu, está aí na casa dos 22 para cima sabe que quando se vira adulto a vida fica absurdamente mais curta para tudo. Mas não vim reclamar, juro. Vim conversar um pouco.

Desde que publiquei meu primeiro livro, ando muito mais atenta para tudo, mais observadora, mais crítica, se possível. E como estou trabalhando na próxima história (TOP SECRET), só fico mais pensativa. Tenho acumulado leituras, lido mais também, nessa ânsia de querer aprender mais, melhorar mais, superar a mim mesma.

Estou dizendo isso por que neste último ano, li e reli várias vezes meu próprio livro. Não sei se procurando por falhas, mas procurando alguma coisa que ainda não sei o que é. Releio "La Lune" e, meu Deus, vejo tantas falhas, tantos erros, me pergunto se estou sendo cruel comigo mesma por fazer isso, mas não. Esse é um bom sinal: quer dizer que amadureci.
Esse é um ponto que todo mundo que escreve constantemente ou já tentou escrever algo alguma vez na vida recebe uma revelação. A escrita, como forma de registro da língua, fornece exatamente isso: um referencial. Algo que quando você volta a encontrar, maravilha-se, por que você não é mais o mesmo que escreveu aquilo. Toda aquela história de não banhar duas vezes no mesmo rio. É exatamente isso. A Lorena que escreveu "La Lune" não é a mesma que escreveu aquelas fan-fics aqui no blog. Que não é a mesma que agora abre seu primeiro livro oficial e não se reconhece mais nele.

Mas o que quer dizer isso? É simples. Significa que me superei. Que consigo ver meus próprios erros, julgar minhas próprias ações, que posso - o que é melhor ainda - evoluir. E isso é o que a escrita sempre fez por mim: me ajudou a crescer.

Lembra quando falava aqui sobre cartas e diários e sobre como escrever é montar em tempo real a sua biografia? A escrita não cessa em me surpreender nesse sentido. É uma sensação muito boa atestar o quanto posso melhorar. E sentir vontade de fazê-lo.

Eu formulei esses pensamentos na noite passada, enquanto trabalhava exaustivamente em reescrever partes do novo projeto. Brigava comigo mesma, parava, voltava, ia ao Wattpad, lia algo novo, pegava um livro na estante e lia partes dele. É aí que a escrita se torna leitura também. Tirei muito tempo dos últimos meses (ou aqueles minutos no ônibus na volta para casa) para LER. Somente ler e apreciar a forma como os outros escrevem. Por que isso me ajuda a construir a minha própria.
Vocês viram isso acontecer aqui no blog. Compare meu primeiro post aqui e este último. Eu não sou mais a mesma. E o eterno espanto de constatar isso é ao mesmo tempo assustador e motivador. 

Mas que coisa profunda para os primeiros dias do ano, não é? 

Por mais que eu, prosaica que sou, deteste admitir, a poesia consegue usar as mesmas palavras para dizer muito mais do que eu consigo. E fica aqui o talento encantador do meu querido Drummond para nos dar "prosa poética" e encerrar esta pequena epifania:

"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que precisam ser escritos...
Estão paralisados, mas não há desespero, 
há calma e frescura na superfície inata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.

Espera que cada um se realize e se consume

com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo. 
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?"

(Carlos Drummond de Andrade, "Procura da Poesia")

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